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Você escreve?

  • Foto do escritor: Michelle Ramos
    Michelle Ramos
  • 18 de ago. de 2019
  • 2 min de leitura
Comecemos pelo início. No último ano ouvi incontáveis vezes a pergunta: você escreve? Respondo com o Saramago: “Somos todos escritores, só que alguns escrevem e outros não.” Penso que escrever é dialogar consigo mesmo e depois contar aos outros o resultado dessa conversa.
Devo confessar que ando batendo altos papos comigo mesma. Caro leitor, não pense no pior, não é o caso de esquizofrenia. Vou contar o que se sucedeu. Até um tempo atrás (uns três anos aproximadamente) isso aqui estava um deserto. Não sei se deserto ou escuro, mas era algo da ordem do inóspito. De alguma forma era seguro mas também ameaçador, pois eu sabia lá no fundinho da alma que segurança demais mata. Então, como um homem pré-histórico lancei-me à caça, ainda que soubesse da vulnerabilidade a qual estava me expondo.
Trocando em miúdos, me divorciei, comecei a fazer acrobacias aéreas e mais, resolvi aprender a ser só. Foi nessa de ser só que se iniciou esse diálogo que vira texto. Só que não acaba aí não. Há coisa de um ano resolvi também não praticar mais o escapismo: minha mente está onde meu corpo está. E aí as coisas começaram a ficar divertidas. Porque estar no presente e só te permite ver genuinamente o mundo. Por exemplo: estava eu, num sábado, almoçando sozinha num restaurante típico da família. O cardápio não negava, dado a profusão de pratos para dois ou quatro. Nesse momento pensei: ando muito solitária, sem ninguém pra dividir o prato do cardápio. A sorte é que havia salada e ela sempre é para um. Aparentemente há bom senso do restaurante em não apostar no delírio coletivo de uma mesa dividindo alface. Enquanto comia observava as outras mesas. Famílias inteiras dividindo única e exclusivamente o prato do cardápio. Cada um em seu telefone. Onde essas pessoas verdadeiramente estavam? As vezes penso que todas se transportam para aquele lugar mágico para onde vão as canetas e os pés de meia que misteriosamente desaparecem. Olhando aquele cenário, vi seres humanos pulverizados, estavam em mil lugares, com mil pessoas em grupos de WhatsApp, publicando seu prato de comida no Instagram, para legiões de pessoas que não se importam. Tão fragmentados que acabam não sendo nada além de átomos vagando pelo universo e pagando contas no crédito pra acumular milhas.
Nesse dia tive a dimensão de que a verdadeira solidão é não conseguir estar nem em sua própria companhia. Ser invisível para si próprio é a maldição do século. Então uma amiga apareceu no WhatsApp e partilhei com ela essa visão. Depois de ouvir meu áudio ela me perguntou: “Michelle, você escreve? Tenho curiosidade de ver seu pensamento no papel.”
Dois dias depois postei um enigma: “o que é o presente que não vira passado? Os ponteiros de um relógio podem ver as horas?” E então veio um amigo perguntado se eu escrevia. Ele queria ler sobre minhas impressões da vida. E assim, cá estamos nós. Retomo uma história de escrita começada lá em 1997, quando entrei no curso de jornalismo. Tenho muitos ”causos” pra contar. Deixo alguns antigos para iniciar a leitura. E prometo voltar aqui toda semana, pra jogar conversa fora, esse sim meu esporte favorito e do qual sou medalhista olímpica.

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