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O Medo e o Pen Drive

  • Foto do escritor: Michelle Ramos
    Michelle Ramos
  • 18 de ago. de 2019
  • 3 min de leitura

O medo e o pen drive


Como é do meu feitio, o começo eu vou deixar pro final. Então me acompanhem pela história confiando que o medo e o pen drive vão aparecer e fazer sentido.


Já faz um tempo que resolvi deixar de ser tão cerebral. Nessa busca, saí da mente para buscar o corpo. E nessa entrei no curso de acrobacia aérea, que eu chamo carinhosamente de circo pra poder ter a chance de fazer piadas com palhaço e assemelhados. Lá, eu entendi a importância da autoconfiança. Você vê o professor fazendo o movimento, ele te explica e te guia, mas lá em cima amigo é só você-consigo-mesmo. Soltar o tecido e cair é um ato pessoal e intransferível.


Aí eu conheci a acroyoga. A dinâmica passa a ser em dupla. Uma coisa curiosa é que na acro cada um tem papel. Não adianta ficar preocupado se está tudo bem com o coleguinha se você não fizer a sua parte. Primeiro cuide da sua postura, faça o melhor possível e deixe que seu parceiro encontre o melhor dele também. Esse é um grande exercício para se entender que não conseguimos dar conforto a ninguém. Essa é uma busca solitária e não há nada de egoísta nisso.


Então ontem fui ao parque com uma amiga nova, Carolzinha Wang. Nova na minha vida e na idade (eu não sei quanto anos ela tem, chutaria 20). E agora a história engrena.


Ela pratica cheerleader (digo pratica porque considero um esporte). E por essa coragem tão característica da juventude ela achou que eu deveria tentar alguns movimentos. O que me separa da Carol Wang, basicamente são vinte anos de idade e uma arroba de peso. Mas não se enganem, porque os vinte anos de idade pesam infinitamente mais que uma arroba. Essa tonelada de tempo vivido consumiu minha confiança, meu ânimo, minha crença na humanidade e as vezes me leva a petulantemente protocolar reclamações desaforadas no SAC do Nosso Lar.


Então fui lá eu, confiando na avaliação de Carol, que jurava de pé junto que eu conseguiria fazer um salto cujo nome não me lembro. A observação é um grande esporte e nesse meu desempenho é excepcional. Antes de me lançar na empreitada dei-me a observar todo o grupo trabalhando. Os rapazes da base (bati, sem querer, em todos eles), a flyer, os movimentos... E então uma nova dinâmica se descortinou. No cheerleader a flyer se entrega totalmente à base que a sustenta. Óbvio que há todo um trabalho por parte dela, mas a magia acontece mesmo lá no suporte. Enquanto voava candidamente, havia três rapazes que trabalhavam pra me elevar, me lançar e me receber de volta. Quem me equilibrava não era eu, eram eles. A única coisa que eu devia fazer era me manter firme e confiar que eles não me deixariam cair.


Eu lá no alto olhava para eles e pensava: o ego deles já se foi. Porque enquanto todo mundo olha maravilhado para o meu vôo, ninguém os vê. Mas o trabalho é todo deles, não meu. Então percebi que o que as pessoas tanto olham e admiram não é o meu voar, mas minha coragem de confiar naqueles caras que se esfolam para que eu seja admirada em pleno vôo.


Devo confessar que o cuidado que aquelas pessoas tiveram comigo, pessoas que nunca me viram, nem sabem o meu nome, mexeu comigo. A disposição de proporcionar essa experiência pra esse caixote de desengoço que sempre fui me chocou. Mexeu porque vi que aqueles jovens, de quem poderia perfeitamente ser a madrasta, tinham muito mais grandeza que eu. E aos quarenta você se vê aprendendo com a galera de vinte e percebe que aprendeu tudo errado na universidade da vida. Vi que durante a minha caminhada eu tirei os pesos errados da sacola. Em algum momento da vida eu resolvi tirar a confiança e troca-la pelo medo. E esse foi esse meu erro. O medo, como os pen drives, tem sua utilidade, mas ambos foram feitos para se perder. Nunca consegui ter um pen drive por mais de seis meses. Mas há medos que carrego há anos.


Então acordamos nessa segunda-feira pensando que dá pra fazer tudo diferente, como se fosse pela primeira vez, aos 40! Carol, marque a galera aqui em agradecimento, por gentileza. Quero que eles saibam da minha gratidão.


P.S não sei explicar a razão do vídeo aparecer deitado... talvez seja sinal dos meus 40 e aquela inaptidão pra tecnologia que apenas a idade nos proporciona... inaptidão adquirida é uma daquelas coisas da vida moderna.

ree

 
 
 

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