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E se (...)?

  • Foto do escritor: Michelle Ramos
    Michelle Ramos
  • 18 de ago. de 2019
  • 3 min de leitura

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Choveu. Hoje choveu. E eu estava na rua quando choveu. Lógico que me molhei. Enquanto subia o aclive íngreme do parque lembrei-me do meu texto da chuva. Pensei cá comigo, será essa a chuva que vai lavar minha alma?


A vida tem uma forma curiosa de dialogar conosco. Essa entidade etérea que chamamos de vida fala de uma forma tão sutil que as vezes só sendo muito louco pra ver sentido. Mas vou explicar.


Esse final de semana eu vi dois filmes e terminei um livro. Comecei assistindo ao O Segredo dos Seus Olhos, um filme argentino com Ricardo Darin. No filme, Darin é Benjamin (já me conquistou daí), um investigador de polícia que ao se aposentar resolve escrever um romance. O livro dele é sobre um crime que foi resolvido, mas não punido. O assassino acaba solto e torna-se protegido da polícia. O amigo de Benjamin é assinado, ele percebe a vida em risco e vai embora para outra cidade, deixando para traz seu amor platônico, que estava noiva e esperava apenas uma palavra de Benjamin para desistir de tudo e viver com ele. A verdade é que o grande resgate do filme não é a história do assassinato e sim o resgate do amor.


Depois eu terminei de ler a obra A Viagem do Elefante de José Saramago. Um história curiosa de um presente de casamento por demais vistoso. O Rei e Rainha de Portugal, num rompante, decidiram dar de presente ao primo Maximiliano, arquiduque da Áustria, um elefante. No idos de 1500, então, uma tropa é escalada para levar o elefante Salomão de Portugal até a Áustria.


Por fim, revi La La Land... Mia e Sebastian, duas pessoas com sonhos diferentes e o amor de um pelo outro em comum, tentando equacionar seus problemas juntos. Mia sonhava em ser uma grande atriz enquanto trabalhava numa cafeteria. Sebastian, depois de tomar um golpe do antigo sócio, sonha em comprar novamente seu bar de jazz.


Agora vamos juntar tudo isso... começando do fim para o começo.


Não é spoiler se o filme já saiu de cartaz, então vou dizer: Mia e Sebastian não ficam juntos no final. Ela foi dedicar-se à sua carreira em Paris e ele ficou em Los Angeles para abrir seu bar. Cinco anos depois da separação eles acabam de encontrando no bar de Sebastian. Ela casada, com uma filha. Ele, ao que tudo indica, só. Embalados pela primeira música que Mia ouviu Sebastian tocar ao piano, somos levados a uma história diferente. "E se naquela noite ele não tivesse falado com aquele cara?", assim começa a ser mostrada uma história com muitos "e se".


E se... Saramago traz no livro um observação curiosa: "a história da humanidade é uma interminável sucessão de ocasiões perdidas". Como seria nossa vida se não perdêssemos tantas ocasiões? E se eu tivesse ficado? E se eu tivesse ido?


Essas questões tem me assombrado ultimamente. E se...?


Então veio uma fala de O Segredo dos Seus Olhos responder a pergunta do "E se?". O crime da história foi o assassinato de uma jovem casada. O marido, Ricardo Morales, jamais conseguiu se recuperar da morte violenta da esposa. E fica ainda mais desalentado quando sabe que o assassino da esposa já está solto. Benjamin Espósito procura Ricardo Morales para saber como ele seguia a vida. Como ele conseguiu viver 25 anos sem a esposa. Após uma dura discussão Ricardo Morales, o viúvo, dá o seguinte conselho a Benjamin:


-Não pense mais nisso! Não pense mais! O que importa? Minha mulher está morta. Seu amigo está morto. Gomez também está morto, estão todos mortos. Não fique mais imaginando, não fique pensando no que aconteceu, no que não aconteceu... senão vai ter mil passados e nenhum futuro. Não pense mais, não vale a pena. Fique somente com as lembranças.


Então, depois de dois dias, entendo o valor desse conselho. Ao passar um final de semana pensando tanto na minha e E SE ela seria melhor SE eu... Mil passados e nenhum futuro.


A verdade é que não consegui resgatar nada da minha pilha de entulho. Mas já é a hora de seguir em frente. Deixar de construir passados e dedicar-me a construir futuros.


"Os pinheiros bem acenam, mas o céu não lhes responde"

Saramago em A Viagem do Elefante

 
 
 

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